Em 2020/21, companhia, que está em recuperação judicial, voltou a registrar ganhos após sete anos
Fonte: Valor Econômico – 02/08/2021.
Depois de um jejum de sete anos, o grupo sucroalcooleiro Clealco registrou resultado positivo na safra 2020/21, encerrada em março. A companhia, que está em recuperação judicial, obteve lucro líquido de R$ 69,3 milhões, um recorde assegurado pela valorização do açúcar e do dólar e pelo aumento da produção. Com o resultado positivo, a companhia busca melhorar suas operações para se fortalecer para as próximas temporadas.
Mesmo com o início da temporada marcado pela pandemia de covid-19, a companhia manteve seu plano de reativar a usina de Clementina (SP), que tinha ficado sem operar na safra anterior. Com esta e a usina de Queiroz em operação, a Clealco processou na safra passada 5,7 milhões de toneladas de cana, um salto de 37% em relação à temporada anterior.
As usinas da companhia têm um perfil mais voltado para o açúcar e baixa flexibilidade para migrar para a produção de etanol – o que acabou se revelando vantajoso na safra passada por causa da alta das cotações do adoçante. Com um preço médio de venda do açúcar a R$ 1.400 a tonelada, a Clealco aumentou em 67% sua receita, que alcançou R$ 1 bilhão.
A companhia já chegou a processar volumes maiores de cana no passado, mas nunca com a rentabilidade obtida na última temporada. “Tivemos o melhor resultado histórico mesmo operando com 30% de capacidade ociosa. Fomos mais rentáveis do que quando o grupo moía 10 milhões de toneladas”, afirmou.
Com controle de custos, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 429,7 milhões, resultando em uma margem de 41,6% (alta de 17 pontos percentuais). Além disso, a Clealco teve um fluxo de caixa operacional de R$ 244,2 milhões, que está sendo aproveitado para aumentar o investimento nas plantações.
O executivo atribuiu a melhora do resultado ao processo de “turnaround” iniciado há três anos, quando a Clealco entrou em recuperação judicial para se proteger contra execuções de sua dívida, de R$ 1,2 bilhão, o que deu fôlego para a aposta em aumento de produtividade e para a mudança nos processos e na cultura da empresa. O plano de recuperação, aditado recentemente, prevê a venda de uma de suas três usinas até 2025 – a Clealco tem também uma usina em Penápolis, hoje hibernada.
Para reativar a usina de Clementina, a empresa teve que recorrer a cana de fornecedores, mas ela já vinha investindo na recuperação de seus canaviais, que alcançaram uma produtividade de 55 toneladas por hectare no último ciclo – ainda abaixo da média do Centro-Sul. Na safra passada, foram investidos R$ 90 milhões em seus canaviais, e agora o capex para as lavouras está sendo elevado para R$ 120 milhões.
Nesta safra, porém, a produtividade deve ser afetada pela longa seca que atinge o Centro-Sul desde 2020, segundo o executivo. A expectativa é que as duas usinas processem nesta safra 5,2 milhões de toneladas, 300 mil toneladas a menos do que o esperado inicialmente. As geadas, por enquanto, tiveram efeitos “desprezíveis”, disse.
A boa notícia para esta temporada são os preços maiores de açúcar – a companhia já fixou 95% do produto a ser exportado nesta safra a um valor médio acima de R$ 1.750 a tonelada, acima dos preços da safra passada.
Outro alívio deve vir dos compromissos fiscais – a Clealco acertou em abril a reorganização de seu passivo de R$ 250 milhões com o Fisco federal, cortando o valor devido em mais de 50%, com reduções de juros e multas, e alongamento o pagamento do restante por uma década. Agora, a companhia se prepara para negociar com o governo paulista passivos de mais R$ 250 milhões.
Cerradinho investe
A sucroalcooleira CerradinhoBio, de Chapadão do Céu (GO), anunciou que vai investir R$ 1 bilhão para construir sua segunda usina de produção de etanol de milho, desta vez em Maracaju (MS). A companhia já tem uma unidade, anexa à sua usina de etanol de cana em Goiás, que também será expandida a partir de setembro, como já informou o Valor. Os negócios de processamento de milho para a produção de etanol, e também de DDGs e óleo de milho, usados para ração animal, estão hoje alocados na empresa Neomille, subsidiária da CerradinhoBio. Diferentemente da planta goiana, a nova usina em Mato Grosso do Sul processará apenas milho; a capacidade será de processamento de 1,1 milhão de toneladas de cereal por ano e para produzir 510 milhões de litros de etanol. As obras começarão no primeiro semestre de 2022, e a conclusão está prevista para o segundo semestre de 2023.