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Condições financeiras pioram e são nova ameaça à retomada

20 abr, 2021 | Finanças

Indicador mostra cenário restritivo e reflete incerteza fiscal

Fonte: Valor Econômico: 19/04/2021.

Enquanto a pandemia segue em seu pior momento no país e o processo de vacinação não ganha tração, economistas chamam atenção para um risco adicional que pode comprometer o ritmo de retomada da atividade. Refletindo não só o início da normalização da política monetária já em curso, mas também o aumento das incertezas sobre as contas públicas, as condições financeiras voltaram a patamares mais restritivos – deterioração que acaba se transmitindo também para a “economia real”, ainda que com alguma defasagem.

Elaborado pelo ASA Investments com base em metodologia usada pelo Banco Central, o Índice de Condições Financeiras (ICF) da asset começou o ano em nível expansionista, mas voltou ao patamar de aperto desde meados de fevereiro, em que segue desde então. Quando o indicador está acima de zero, aponta condições financeiras apertadas. Já um índice negativo mostra condições frouxas, ou seja, favoráveis à atividade.

Na sexta, o ICF fechou o dia em 0,19, abaixo da medição do dia anterior (0,23), mas ainda acima do observado no segundo semestre de 2020 e nos dois primeiros meses deste ano, período dominado por índices negativos. O ICF agrega componentes de preços (índices de commodities, cotações de petróleo e taxa de câmbio, por exemplo) e variáveis de mercado, como índices nacionais e internacionais de bolsas, medidas de risco-país e o comportamento das taxas de juros aqui e no exterior.

A única diferença do índice do ASA em relação ao do BC é um ajuste feito para incorporar a estimativa de que o juro neutro (aquele que nem estimula nem contrai a economia) no Brasil e no mundo caiu, explica Gustavo Ribeiro, economista-chefe da gestora. Com essa queda, o ASA avalia que o juro brasileiro de um ano não está mais dando contribuição estimulativa.

Além de mostrar uma síntese do comportamento dos mercados, índices de condições financeiras são considerados bons antecedentes do desempenho da atividade. “As condições financeiras desempenham um papel crucial nos ciclos de negócios, refletindo não apenas a situação econômica atual, mas também as expectativas do mercado em relação ao estado futuro da economia”, apontou o BC em boxe do Relatório de Inflação do primeiro trimestre de 2020 que apresentou a metodologia do seu índice.

Juros mais altos encarecem empréstimos. Um câmbio muito volátil e desvalorizado tira previsibilidade das empresas que exportam e importam, além de encarecer compras externas de bens de capital. Ações em baixa tendem a diminuir a capacidade das empresas de investir e levantar recursos.

Para o ASA, o impasse sobre o Orçamento de 2021, aprovado com despesas obrigatórias em nível irrealista para elevar recursos destinados a emendas parlamentares, piorou a percepção de risco sobre as contas públicas, o que tem resultado em aperto das condições financeiras. “A insistência em buscar o ‘fake’, tanto no cronograma de vacinas, como no Orçamento, é o caminho certo para retardar a recuperação da economia e impulsionar a inflação, levando ao aumento contínuo da taxa de juros”, afirmou o grupo de investimentos que tem o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall como diretor.

Com visão mais pessimista do que o consenso de mercado, a gestora trabalha com alta de 2,3% do PIB em 2021. Em conjunto com a manutenção de um ambiente de prêmio de risco elevado, a incompetência da estratégia de vacinação do governo e o surgimento de variantes do coronavírus tendem a reduzir o ritmo de retomada no segundo semestre, avalia o ASA.

Em sua mais recente revisão do cenário, o Bradesco afirmou que um desfecho positivo para as questões fiscais e para o manejo da pandemia tem potencial para acelerar o crescimento e surpreender positivamente. Contudo, por ora, dúvidas têm prevalecido na formação de preços de ativos, pressionando as condições financeiras e as perspectivas para a atividade e o nível de preços.

“Estamos vendo um câmbio mais depreciado que no fim do ano passado, o risco-país e juros mais altos. Se não tivermos sinalização de melhora, especialmente do risco fiscal, o cenário de recuperação para o segundo semestre e para 2022 pode ser comprometido”, diz Luana Miranda, economista da GAP Asset.

Segundo Igor Velecico, economista-chefe da Genoa Capital, a variável financeira mais importante como antecedente do PIB seria o comportamento das taxas de juros, principalmente as de curto prazo. Enquanto a curva de juros de longo prazo é mais afetada pela piora da percepção sobre as contas públicas, as taxas de um a dois anos subiram em resposta à sinalização de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai continuar elevando a Selic, diz Velecico, após o ajuste de 0,75 ponto já feito em março.

Em seus cálculos, cada um ponto de aumento da taxa Selic “retira” também um ponto de crescimento do PIB ao longo de quatro trimestres. “Se a Selic fica parada um ponto acima de onde estava antes, isso retira cerca de 0,25 ponto de PIB por trimestre, ou 0,5 a 0,6 ponto por ano. É um impacto razoável”, afirma ele.

Para o economista, a defasagem da transmissão da política monetária para a atividade é pequena, de um trimestre. Assim, em sua visão, o efeito da alta já ocorrida na Selic vai se manifestar no período de abril a junho, que já deve ser o mais afetado pelas medidas de isolamento social. Por isso, a Genoa trabalha com retração de cerca de 1,5% do PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro, feitos os ajustes sazonais. No ano, a expectativa é de crescimento de 3%, contando com avanço da vacinação e reabertura maior da economia no segundo semestre.

O desempenho mais positivo dos dados de varejo e serviços no começo do ano deve garantir crescimento de 3,3% do PIB em 2021, mesmo com uma retomada não tão expressiva na segunda metade do ano, avalia Luana, da GAP. Para ela, a disponibilidade de vacinas e a evolução da pandemia serão os principais determinantes do ritmo de recuperação no terceiro e quarto trimestres, enquanto o aumento do risco fiscal representaria ameaça maior ao crescimento do próximo ano.

“Se tivermos um cenário de deterioração fiscal, haverá impacto direto sobre câmbio, preços e política monetária. Se o Banco Central tiver que subir mais os juros, isso pode ser entrave ao crescimento, principalmente no ano que vem”, alerta a economista.

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