Fonte: O Globo – 04/07/2021.
RIO — De um lado, passageiros empilhados em veículos precários, sem acesso a integrações e reféns de linhas sumidas. Do outro, empresas fechando as portas e investigações sobre desequilíbrios e fraudes em contratos. No centro da questão, modelos ultrapassados e insustentáveis de transporte público. Desde o ano passado, a pandemia escancarou e agravou as falhas da mobilidade urbana no Rio. Com a queda natural de demanda, as frotas ficaram ainda mais minguadas, já que concessionárias alegam não conseguir mais prestar o serviço contratado, o que impossibilitou, inclusive, o cumprimento da determinação de distanciamento social entre os usuários.
Entre os ônibus, são 173 linhas suspensas e apenas 160 cumprindo a quantidade mínima determinada de veículos nas ruas. O BRT, cujo sistema foi encampado pela prefeitura, hoje transporta menos passageiros que as vans — contando apenas as legalizadas. No trem, a concessionária SuperVia entrou com pedido de recuperação judicial, em meio a perdas de R$ 474 milhões durante a pandemia. No caso das Barcas, a CCR deseja, há anos, um acordo para deixar a concessão, e a demanda de passageiros caiu 73% após a chegado do coronavírus, o que fez o negócio “virar pó”, segundo seus administradores. Queda de passageiros também foi observada no metrô e no VLT, que patinam devido à falta de integração com outros meios de transporte.
No lado mais frágil da equação, sofrem os passageiros. Moradora de Campo Grande, Larissa Silva pega o ramal de Santa Cruz todos os dias. Entre os problemas, ela cita atrasos, suspensões e um assalto que já presenciou na estação de Madureira:
— Na terça-feira (passada), não teve trem. Eu tive de ir para Bangu e pegar o trem até Madureira, porque de Campo Grande não tinha. Paguei duas passagens a mais e cheguei atrasada ao trabalho.
Dia após dia, as cenas se repetem. Na estação Mato Alto do BRT, em Guaratiba, desde as 6h30 os passageiros começam a formar filas. Quando as portas se abrem, dezenas de pessoas se empurram e se acotovelam. Morador de Guaratiba, o jardineiro Jorge Luiz, de 48 anos, diz que já precisou ficar 15 dias de licença do trabalho após uma lesão num desses tumultos.
— Eu torci o joelho. Até hoje está ruim. Já arrebentei chinelo e machuquei o pé. Aqui, só vai lotado — lamenta.